quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Manali-Kaza

A viagem seria pelo vale de Kinnour, 2 dias de viagem para percorrer os 600km que separam Manali de Kaza por esse caminho. O caminho mais curto (Rohtang Pass) levaria não mais do que 9 horas para percorrer 200km, se não estivesse com muita neve numa parte do caminho.

Acordei as 4h da manhã para chegar no local combinado antes das 5h e assim sairmos às 5h, o que não aconteceu. O pessoal foi acordando e se ajeitando e acabamos saindo as 7h30... Como preferiria dormir essas 2h30 a mais naquele frio que estava. Mas tudo bem, “indian time” novamente.

Tentei não pensar nisso, tomei uns dois chás enquanto esperava e relaxei. Já fui criando um monte de expectativas de ir conversando com o pessoal local, aprender algumas palavras do idioma budista que eles falam e especular bastante sobre a vida deles. Fiquei animado. Acabei indo na frente com um cara não local, funcionário do governo, e que quase não falava inglês. Fiquei desanimado.

Os dois caras que foram na frente comigo foram o funcionário público Krishna que trabalha na vila nos 5 meses que ninguém mais trabalha (nenhuma pessoa local trabalha em Spiti no inverno) e o motorista Akash, que meio bobo mas é bonzinho. Conversamos um pouco, mas logo já não tinha o que conversar...

Após o primeiro dia de viagem iríamos dormir em Rampur, uma cidadezinha que não tem nada além de um castelo de um imperador dos anos 1920 e alguma coisa... Bem recente! O imperador ainda existe, mas não vive lá mais. A cidade então virou apenas passagem, e estava bem cheia naquele dia... ninguém soube me dizer porque. Começamos a procurar um lugar para ficar, mas eles estavam muito preocupados comigo e não podiam gastar muito, nem eu queria. Num sei porque esses indianos acham que dá pra dormir três cuecas numa cama de casal, mas pra mim é impossível... então eu só queria uma cama pra mim! Os caras ficaram enrolando e não estavam conseguindo nada, entrei na primeira biboca que encontrei que parecia um albergue de bêbado e falei: ficamos aqui, tudo bem? O lugar era sinistro, mas era barato o suficiente e eu tinha minha própria cama.

Dormi tranqüilo, mesmo que sem banho. No outro dia o baguá do motorista acordou atrasado e deixou todo mundo esperando. Eu quase me ferrei nessa, porque eu precisaria tirar uma permissão numa outra cidade no caminho para passar numa área considerada de risco, na fronteira com a China e isso demoraria umas 2h. Como já estávamos atrasados eles sugeriram me deixar pra trás e depois eu conseguiria a permissão e continuaria a viagem... quanta raiva do motorista nessa hora! Eu bati o pé lá e também lembrei eles de que o governo não dá permissão a menos que você esteja em grupos de pelo menos 4 pessoas. Um monge meio influente que estava junto cansou da discussão e resolveu – falou que eu iria sem a permissão e ele assumia a bronca, caso necessário. Passaríamos nas duas barreiras comigo “infiltrado” no meio dos locais. Fiquei um pouco com medo, mas não tinha como dar errado, éramos em muitos carros com população local e a época de turismo já estava acabando. Foi assim que passei pelas barreiras sem permissão. Imagino que se não fosse dessa forma talvez tivesse levado pelo menos mais alguns dias pra chegar lá.

Passamos primeiro em Tabo, onde logo vi dois monastérios. O novo foi construído há poucos anos e é bem colorido e dourado. O velho, considerado o mais antigo da Índia ainda em suas condições originais, tem mais de mil anos e é bem marrom. Foi meu primeiro contato com esse mundo budista. Também notei algumas guest houses (hotéis mais baratos) por lá.

Seguimos para Kaza, onde chegamos a noite. O frio estava incomodando bastante, mas eu estava com muitas roupas e já tinha lugar pra ficar, tranqüilo...