quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Viagem para o Himalaya

Depois de uma reunião com minha chefa da ONG, sai apressadamente para pegar o ônibus para Manali. O ônibus ia sair às 17h de Delhi e chegar às 7h30 em Manali. Mas, seguindo o “indian time” saímos quase às 19h de Delhi e chegamos quase às 11h em Manali. A chuva em Manali estava terrível; não muito forte, mas sem sinal de que ia passar... Como não passou por dois dias. A primeira coisa que fiz foi procurar alguma forma de ir para Kaza, uma vila budista na divisa com o Tibet. Nessa vila há um projeto muito interessante, no qual eles trabalham com “sustainable livelihoods” através de várias iniciativas. E por isso eu queria muito ir conhecer. A primeira má notícia, como estava chovendo em Manali (cerca de 2000m de altitute) significa que estava nevando por onde passa a estrada que leva a Kaza (com trechos a mais de 4000m). Segunda má notícia, os ônibus do governo (alternativa mais barata) já não estavam indo para Kaza, a estrada fica muito perigosa por causa da neve entre fim de outubro e março. Pensei seriamente em alugar uma bicicleta e ir pedalando os 250 km que separam as duas cidades. Fui olhar quanto sairia, se tinha como ter um guia e tal. O frio ia ser grande, a altitude atrapalha um pouco também, mas acredito quem em três ou quatro dias eu conseguiria chegar lá. Fiz as contas e ficou um pouco caro... Sem guia ficava bem mais barato, mas o risco aumentava muito também. Desisti! Mas se tivesse mais um doido comigo eu teria ido, com certeza. As esperanças começaram a se esvair e logo comecei a pensar em algum plano B para minha estadia em Manali, mas com chuva e frio não dava pra fazer nada, talvez esquiar no Rohtang Pass. Fui para o hotel, desesperançoso. Fiquei em um hotel que meu amigo Badawy, um doidinho do Egito, me recomendou. Realmente um bom hotel... parte antiga da cidade, na beira de um rio de águas correntes e congelantes vindas das montanhas, barulhinho bom. Me acomodei no hotel e voltei para a cidade em busca de algum meio de transporte para Kaza. Distribuí meu telefone para quase todas as agências de turismo da cidade e para qualquer um que eu senti que pudesse me ajudar. Sem mais o que fazer a não ser esperar, fui jantar. Procurei algum lugar que não estivesse desértico... fim de estação a cidade estava vazia. Achei um restaurante perto do hotel que tinha uma mesa de indianos e outra com dois estrangeiros. Pedi um chá de gengibre e limão com mel, uma lazanha (nunca tinha visto isso na Índia) e estava esperando qualquer coisa não muito temperada ou apimentada como lazanha. De repente ouvi sem querer na mesa dos estrangeiros blá, blá, blá going to Kaza this week… OPA! Vocês estão indo pra Kaza? Um dos caras era australiano e estava indo embora no outro dia pra Delhi. O outro era alemão, estudava medicina e estava trabalhando um tempo na Índia, no momento no hospital de Manali. Ele estava planejando ir pra Kaza porque alguns médicos iam pra lá ficar um tempo para atender a população local, já que não tem nem posto de saúde na região, só uns tratamentos budistas meio alternativos. Eles iam montar um acampamento temporário, o que é feito de vez em quando, para atender a população do vale de Spiti (onde Kaza é a principal vila). Ele disse que iria tentar pegar um carro do hospital com o pessoal e tal ou talvez a gente fosse com os outros e ainda pudesse visitar um lago muito bonito que tem no caminho... fiquei animado novamente! No outro dia acordei cedo e andar um pouco nas montanhas... pra conhecer a cidade e os templos que têm por lá. Enquanto isso esperava mais notícias do Flo (o Alemão) ou de qualquer um que eu deixei o telefone na cidade. A chuva estava incessante e o frio aumentando à medida que eu me molhava cada vez mais (apesar das roupas à prova d´agua). Andei bastante nas montanhas, conheci um templo grandão e de mais de 1000 anos, Hadimba e outro mais novo e pequeno no meio da montanha, perto das casas da população local. Do lado desse último templo tinha um pessoal local fumando e jogando cartas... eles fumavam muito, cigarro e haxixe e jogavam um jogo parecido com caixeta, apostando algumas rúpias. Alguns outros alimentavam a fogueira que esquentava um pouco ao redor. Voltei pelo meio das casas do pessoal, achei mais outro templo grande no caminho e enfim cheguei de volta na cidade. Comi a minha melhor refeição na India, truta com legumes, humm... Nesse tempo que estava andando recebi uma ligação de um tal de Moto que me falou que havia um pessoal indo pra Kaza no outro dia às 5 da manhã... Fui falar com o Moto, a pessoa que me ligou falando da viagem. Ele disse que havia vários jipes indo no outro dia com um monte de gente da região e que eu poderia ir com eles no “shared taxi”. Ótimo, até amanhã então – falei pra ele animado. Fui logo voltando pro hotel para tentar usar a internet e falar com o Flo dessa carona. A internet tava muito ruim, como vocês podem ter visto o post que mandei e o Flo não iria mais para Kaza, o acampamento havia sido cancelado por causa das más condições do tempo. Depois da má notícia para ele e da boa notícia para mim fomos jantar com um casal eslovaco que tava por lá também. Esse casal faz como muitos europeus que conheci na Índia, ou mesmo o suíço que morou um tempo na república. Eles trabalham por um tempo em algum trabalho “temporário”, no caso deles housekeeping (caseiros) por um ano na Inglaterra (pelo menos nos últimos 3 anos), juntam algum dinheiro (£30,000 no caso deles) e depois passam uns seis meses viajando. O esquema tem que ser mais econômico (“budget”), mas nem por isso eles aproveitam menos. Um estilo de vida diferente... Mas eu não agüentaria um trabalho tão pouco desafiador por tanto tempo, tampouco seis meses “vagando” por aí. Acordei às 4h da manhã, vesti o máximo de roupas que pude e fui me encontrar com o pessoal para sairmos de viagem.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Camel Safari

Como havíamos marcado há algum tempo, fomos pro deserto fazer um safári de camelo. Eu tinha combinado com o Stéfano um outro brasileiro amigo meu de outras viagens, como ENEGEP em Fortaleza. Íam também mais quatro pessoas que moram também em Gurgaon (cidade da região metropolitana de Delhi). Mas, chegando a data da viagem, outras pessoas resolveram ir e finalmente fomos em 9 pessoas. Foi bom porque dá pra conhecer mais gente e fazer mais farra, mas ruim porque a gente acaba tendo menos contato com outras pessoas e tudo demora muito pra resolver e fazer, tipo restaurante etc.

Fomos de trem numa classe sem ar condicionado (sleeper class), 20 e poucas horas de viagem... as 5 últimas numa poeira e areia terríveis! A viagem foi longa, bem longa. Logo que chegamos fomos pra um hotel que um amigo de alguém recomendou, bom hotel... Não tão caro... Mas o restaurante era terrível porque além de demorar e vir tudo errado os pedidos, a qualidade deixou a desejar... Não comemos mais lá!

Agendamos nosso safári de camelo para o dia seguinte e fomos passear pelo forte. A cidade tem um forte que na verdade era a cidade em si há anos atrás... O forte é bem grande e bonito, mas muitas partes estão mal cuidadas e outras fedem esgoto... Ainda hoje moram cerca de 5 mil pessoas dentro do forte, segundo estatísticas locais. Isso sem contar as vacas e os morcegos. O interessante é que não tem nenhuma área verde, só pedra, e mesmo assim tem várias vacas por lá, não sei o que elas comem... Se bem que fora do forte também é uma cidade de areia, então faz pouca diferença...

Depois do jantar fui tirar uma soneca na varanda do hotel, vendo a lua e as estrelas... muito melhor que ficar no quarto quente com mais dois macacos, um russo e um polonês... mas depois acabei indo pro quarto; um pouco apertado o sofazinho que eu estava deitado.

Enfim, o Safári. Saímos de jipe após duas horas para acertar as 9 contas do hotel e fomos para uma área mais afastada. Passamos por um tempo jainista, por uma vila e enfim chegamos ao lugar onde pegamos os camelos. Não estava tão quente assim como esperava, o que é bom...

Então seguimos por algumas horas pelo deserto e logo chegamos em uma vila... Era um vila pequena, devia ter umas vinte ou trinta casas no máximo. Bem legal como as casas são construídas (com acabamento em bosta de vaca... ou camelo, sei lá...) e como as crianças gostam de fotos! Nessa vila compramos um “whisky” feito de árvores, folhas e cactos do deserto, segundo informações locais... era um negócio meio verde nada cristalino e que tem um gosto de álcool mas que não chega nem perto de whisky (acho que eles chamam whisky da mesma forma como falamos que vamos beber umas cachaças, mas na verdade bebemos cerveja, vinho, etc...). A bebida lembra um pouco uma pinga, mas é mais fraca um pouco. Ah, tinha uma mulher na vila que até vendia coca-cola, hahahaha... coca-cola no deserto... mas não estava gelada, é querer demais também, né!

Senti que as pessoas da vila ficaram um pouco incomodadas com nossa presença e nossas máquinhas fotográficas apontado para tudo e para todos... Eu também ficaria. Acaba sendo um pouco invasão de privacidade... uma vila pequena assim é um lugar muito mais íntimo que uma cidade. Às vezes o turismo tem esses efeitos não tão bons... e logo as crianças aprendem a pedir “one rupees please”...

Depois da vila fomos para uma parte que tinha umas dunas mais altas e bem formadas para vermos o pôr do sol...

Sol se posto, voltamos para o lugar onde pegamos os camelos para jantarmos... Como diz o povo local “On the desert, no toilet, no shower; 24h a day full power”, ficamos sem banho e fazendo as necessidades no matinho, ou na areinha no caso. O jantar foi ótimo e também teve uma apresentação de dança local com um homem vestido de mulher...

Findo o jantar, voltamos para as dunas onde nossos colchões estavam esperando... saímos pra recolher um pouco de lenha sob a luz da lua, fizemos uma fogueira e ficamos conversando e tomando o whisky esquisito do deserto. Logo um por um foi dormir! Eu e o Stéfano decidimos sair pra caminhar um pouco no deserto e conversar um pouco. A lua estava bem clara e a temperatura estava muito agradável. Na volta nos perdemos e pra piorar tinha um bicho seguindo a gente, não sei o que era, mas tinha o tamanho de um cachorro médio e estava tentando cercar a gente. Ficamos um pouco com medo, foi uma meia hora de tensão... mas logo achamos o resto do pessoal e fomos dormir também.

Acordamos com o sol na cara no outro dia, tomamos café, camelamos mais um pouco e ficamos esperando o jipe. Nessa hora pude notar uma grande semelhança entre o “ten minutes” de indiano e o “ali” de mineiro... Depois de esperar quase duas horas pelo jipe, pegamos carona em um trator por uns 10 km e depois encontramos o jipe no caminho... Nesse meio tempo o pessoal até fez bunda lelê pra um busão cheio de americanas gordas que passou por nós...

Chegamos de volta no hotel, tomamos um banho depois de dois dias sem isso e pegamos o trem de volta pra Delhi. A viagem foi um horror, num sei de onde saiu tanto indiano naquele dia. Eles invadiram o ônibus e começaram a se empoleirar em todos os espaços vazios do trem... deitavam no chão, no corredor, na entrada do banheiro, colocavam as crianças junto com outros passageiros, uma zona... ainda bem que não aceitam mais porcos, galinhas e papagaios nos trens...