quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Vilas do distrito de Mandla

Finalmente depois de algum tempo fora... estou de volta à vida com internet... A viagem para as vilas foi bem legal: 17h de trem + 3h de jeep para a cidadezinha principal e mais algumas horas para ir para as vilas menores no entorno. Ao todo são umas 350 mil pessoas vivendo em todo o distrito distribuidos em mais de 1200 vilas, 80% da população está na zona rural. Não existem grandes fazendas, só pequenas propriedades com produção por métodos tradicionais. É uma região com muitas florestas e tem um parque muito importante: Kanha National Park. Existe também a coleta de vários produtos florestais não madeireiros como atividade em algumas épocas do ano. Ficamos num hotel bem bom na cidadezinha principal, que tem uns 50 mil habitantes. Todo dia íamos para algumas vilas perto onde de fato estão os projetos de campo. Abaixo tem uma foto de um dos escritórios em uma vila e eu trabalhando em outro escritório, em outra vila. De lá (primeira foto) eles organizam um CLC (Cluster Level Center, são dois ao todo nessa região), no qual centralizam os produtos vindos dos VLC (Village Level Center, são 12 para cada CLC) e vendem ou mandam para a unidade de processamento. O principal projeto que tem lá é uma espécie de cooperativa de produtores. A ONG organiza as mulheres para comercializarem seus produtos em conjunto para aumentar a escala e os preços conseguidos. Eles também desenvolveram uma unidade de processamento onde fazem extração de óleo, produção de farinha e descascam arroz. Tem um motor central a diesel que serve pra rodar as três máquinas que compõem a unidade. É muito boa a idéia mas achei os equipamentos muito mal cuidados. Vejam a foto ao lado do extrator de óleo e a secretária da "cooperativa"... O trabalho da ONG atinge uma 60 vilas aproximadamente, com aproximadamente 120 grupos de mulheres (WEG - woman enterprise group) envolvendo cerca de 1300 mulheres. Além disso a ONG desenvolve capacitações em desenvolvimento de negócios com as mulheres e oferece suporte de creche para elas deixarem as crianças enquanto trabalham... Abaixo tem uma foto do armazém onde os produtos são estocados durante algumas épocas do ano. O desafio nessas comunidades é bem grande porque os produtos são na maioria commodities agrícolas, o mercado é muito dinâmico e as margens de lucro são bem apertadas... Outro desafio enorme é ensinar qualquer coisa para esse povo... São na maioria tribais analfabetos e que nem sempre estão interessados em se esforçar para aprender coisas... Um problema muito grande é o grande consumo de bebidas alcoólicas e tabaco que, além de comprometer em média 20% dos rendimentos das famílias, contribui para o aumento da violência familiar... Também fui fazer umas pesquisas em um mercado para ver como funciona. Os mercados são itinerantes... cada dia é em um lugar diferente. Eles também têm diferentes tamanhos. Fui em um bem grande, talvez o segundo ou terceiro maior da região, vejam algumas fotos ao lado. Eles vendem de tudo: desde comida até utensílios de casa, bijuterias, papelaria, tabaco, etc... Aí as pessoas vêm de vilas perto do local do mercado para comprar e vender. É uma dinâmica muito diferente do que conhecemos no Brasil. Foi bem difícil a viagem pro mercado... 85km ida mais 85km volta... de moto numa estrada horrível, cheia de poeira, buracos e caminhões... o pior mesmo foi na volta que o farol da moto tava quebrado apontando para cima então não conseguíamos enchergar a estrada, quase 3 horas de viagem... vejam a foto ao lado, como chegamos limpinhos... Além disso tivemos algumas reuniões com o pessoal de campo lá e eu pude jogar um jogo que desenvolvi aqui baseado no banco imobiliário, mas com atividades familiares a realidade deles ao invés de propriedades e mais algumas adaptações... tomara que eles consigam usar lá... Acho que pode ser muito útil para um primeiro contato com fazer negócios, investimentos e tomar decisões... O que foi bom também é que eu fiquei com os caras que encabeçam essas iniciativas... aí todo dia a noite a gente ficava conversando bastante sobre essas coisas... sobre os desafio de fazer esse trabalho, sobre como influenciar políticas públicas para melhorar a condição do nosso público-alvo (coisa que eles não acreditam muito que podem fazer, mas eu acho que tem como), sobre os diferentes projetos e até mesmo sobre os problemas do dia-a-dia do trabalho e as questões relacionadas às pessoas... na foto tem o pessoal (não os chefes claro, eles não sujam a mão) empurrando o carro que pifou, hahaha... ah, eu tava ajudando viu, só parei pra tirar a foto... Uma coisa que me incomodou bastante é que o pessoal não tem tanto amor e apego pelo que faz... a maioria não está tão conectada com a causa e encara como se o trabalho fosse como qualquer trabalho comum... Definitivamente não acredito que quem trabalha com desenvolvimento possa fazer a diferença pensando assim... Então me fez pensar bastante em relação ao comprometimento que as pessoas precisam ter para trabalhar em ONG´s... não é só fazer sua parte e entregar o que te pedem, tem que ter mais, obrigatoriamente... os valores tem que estar conectado e a pessoa tem que estar no espírito de fazer aquilo, senão perde o sentido e vira apenas um trabalho mal pago. Mas ainda bem que não são todos assim e que alguns conseguem fazer a diferença, mas quem não tá no clima às vezes atrapalha mais do que ajuda... Cliquem na foto ao lado para aumentar e vocês podem ver uma reportagem sobre a cooperativa (chamada UJAS) e sobre a presidente da organização.