quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Feriado de Independência

Sexta feira passada (15/08) foi feriado aqui também, Independência da Índia. Foi o 62° aniversário da Independência do Império Britânico e também da divisão da Índia e Paquistão, seguidos das rusgas político-religiosas que assombram esses países até os dias de hoje. Então fui viajar. Não que eu não iria também se fosse um final de semana normal. Fui pra Varanasi e pra Bodhgaya, ambas no nordeste da Índia, nos estados de Uttar Pradesh e Bihar, respectivamente. Varanasi é uma importante cidade religiosa para os hindus, toda esquina tem um templo. Por ela passa o rio Ganges e por ele passam muitas pessoas durante o ano... algumas ficam pra sempre (depois eu explico)! Lá eu conheci dois amigos da Coréia e uma Inglesa que estava almoçando no mesmo restaurante que eu, por fim ficamos o dia inteiro andando juntos (eles estavam sem rumo e eu queria mais gente pra dividir o Auto-Rickshaw e o barco)... Fizemos um passeio de barco pelo Ganges... lá tinha um cara meditando com a água para baixo do peito um pouco que me chamou a atenção, o barqueiro falou que ele ia ficar ali por 24 horas e que é normal eles fazerem isso... Bom, para um rio que tem mais de 1,5 milhões de coliformes fecais por ml (recomenda-se ter menos de 500 para tomar banho) o cara tem que ter muita fé mesmo. Vejam a foto ao lado, tive meu contato com o rio... acho que foi o suficiente. Sabem por que algumas pessoas ficam no rio? Eles queimam os mortos numa espécie de fogueira e jogam no rio, os bebês eles não queimam não, falam que não precisa... Que sensação esquisita ver vários corpos queimando... Vejam a foto e imaginem... Dizem que foi em Varanasi que surgiu a Ayurveda. Tem também uma universidade lá bem grande, Benares e uma vila budista no subúrbio, Sarnath. Na vila budista tem alguns templos mais novos e um jardim, que dizem que Buda foi para lá sete semanas após sua iluminação e começou a ensinar o budismo, inicialmente para cinco discípulos. Tem uma Stupa, um típico monumento budista. Já Bodhgaya é uma vila perto de Gaya. Bem pequena, cerca de 1km de raio a partir do ponto mais central. É tão pequena que fomos até andar nas platações de arroz ao redor. Fomos, eu e o Hetch (um outro brasileiro que está trabalhando na Tata), que combinei de encontrar lá, viajar sozinho as vezes pode ser um pouco chato (vejam a foto do Budão)... Em Bodhgaya está o Monumento do Mahabodhi, construído em frente à sucessora da Bodhi Tree (árvore embaixo da qual Buda passou 3 dias e 3 noites meditando até alcançar o Nirvana). Tem também vários templos budistas de vários países, como: Vietnã, Sri Lanka, Malásia, Japão e Tailândia (Na foto com braços abertos). Funciona como um ponto de encontro dos budistas. O Dalai Lama passa dezembro e janeiro em Bodhgaya. Dizem que nessa época a economia local fica bem aquecida... Mas durante todo o ano pessoas vão lá para conhecer e, por ventura, podem ficar hospedadas num dos monastérios. Está ficando bem turístico o lugar... Bom, pra quem chegou até aqui gostaria de compartilhar umas coisas que me incomodaram um pouco. Ah! Vamos lá... Uma das coisas diz respeito ao motivo pelo qual muitas pessoas se tornam budistas na Índia. Lá em Bodhgaya, estávamos conversando com um noviço e ele estava contando que só vai pro monastério quem não tem outra opção, porque é muito pobre e a família passa fome. Ele disse que a maioria não gosta e que, talvez até após uns 15 anos eles comecem a gostar, ou a ver que não tem outro jeito mesmo... Disse que é bom quando o Dalai Lama aparece por lá porque aí eles fazem um bom dinheiro (com essas palavras). E que a vida dos monges quando ficam mais velhos também nem é tão ruim, eles ficam lá no ar condicionado bebendo e conversando. Outra coisa diz respeito ao hinduísmo. É muito interessante como eles conseguem ter histórias/estórias para todo o tipo de comportamento que eles querem estimular. Esse é o motivo de terem milhares de deuses. Dá pra perceber que, quanto mais pobre a família, mais religiosa. Percebi isso conversando com o dono do hotel que foi nos levar para conhecer alguns templos do bairro... Ah, os caras que trabalham com a queima dos corpos enchem a cara! Dizem que é um trabalho muito triste e que eles precisam de distração. Para concluir então o saldo dessa viagem de fim de semana. Cada vez penso que o ser humano é muito igual mesmo em todos os lugares do mundo. Todo mundo quer conforto, quer dinheiro e quer reconhecimento. As coisas tomam formas diferentes nos diferentes lugares, mas no fim converge para os mesmos princípios, os da natureza animal do ser humano, do instinto de sobrevivência e da vontade de ter ou ser aquilo que você não é. Talvez quando as pessoas ficam mais velhas elas mudem... e eu acho que algumas podem mudar... talvez pela idade, talvez porque já saciaram muitos de deus “desejos terrenos”... Bom gente, é mais ou menos isso aí – sem rascunho, sem revisão – do jeito que saiu da cabeça...